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Guia: Compra de uma calopsita


DCM Balthazar

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Olá amigos.

Hoje eu pretendo escrever um guia de orientação de compra para as pessoas que desejam adquirir uma Calopsita, porém ainda não tiveram contato com a ave e desejam iniciar essa fantástica experiência que é criar uma Calopsita. Tenhamos em mente que essa compra deve ser fruto de uma decisão consciente das responsabilidades que serão assumidas e, portanto, deve ser pautada em uma séria reflexão. Além disso, essa compra deve ser composta de um processo, que tentarei da melhor forma possível descrever.
 

I- DA PROCEDÊNCIA



Atualmente existem inúmeros pontos de venda de animais no Brasil, de todos os gêneros possíveis e imagináveis. Em específico, devemos observar a forma como tais lojas tratam o assunto de vender uma ave e suas responsabilidades decorrentes dessa atividade. Em primeiro lugar, devemos verificar se o estabelecimento dispõe de um exemplar do Código de Defesa do Consumidor em lugar visível e de fácil acesso. Isso porque existe no Brasil uma Lei Federal – 12.291/2010 – que estabelece essa obrigação. Isso já é um indicativo que devemos observar se o estabelecimento cumpre a legislação ou se está em condições inadequadas. Isso pode parecer simples, mas quem não cumpre algo tão simples não teria problemas em não cumprir algo mais específico.

Escolhido o estabelecimento que se deseja efetuar a compra, deve se verificar se o mesmo se dispõe a vender animais da maneira correta. Aves silvestres do Brasil devem ser anilhadas com anilha fechada, com identificação do criadouro, número de registro na FOB (Federação Ornitológica Brasileira) e o ano de seu nascimento. Em específico no caso da Calopsita, trata-se de um animal considerado doméstico pelo IBAMA, conforme estipulado pela Portaria nº 93, publicada em 1.998, razão pela qual tal procedimento de identificação na Calopsita é meramente facultativo. Ainda assim, existem estabelecimentos que vendam Calopsitas anilhados, o que significa dizer que a ave possui procedência identificável e sua idade pode ser ao menos, aferida por ano.

Paralelamente a esse aspecto legal, devemos observar em primeiro momento o alojamento dessas aves. Uma loja que tenha um número grande de aves em um viveiro apertado, constituindo uma verdadeira superpopulação deve-se ficar muito atento, pois isso não é um bom sinal. Outro fator importantíssimo é a limpeza do viveiro. Se o fundo do viveiro estiver muito sujo, com fezes secas sobrepostas aos montes, com restos de pena soterrados, é possível concluir que a limpeza do local no mínimo, não colabora para a saúde das aves que vende. Passada essa fase, passemos a verificar as condições da ave e os termos da negociação.

Uma questão que é relevante de ser abordada nesse momento é o dilema entre comprar de uma loja de animais ou comprar direto do criadouro. No meu modesto ponto de vista, eu digo que depende muito mais das condições que serão abordadas a seguir do que propriamente em ser do criadouro. Evidentemente em criadouro existe a possibilidade de se comprar por um preço melhor, porém nem sempre é fácil encontrar um criadouro adequado para essa compra em qualquer local do país.

 

 

II- DAS CONDIÇÕES DA AVE


Em que pese podermos observar alguns detalhes no animal antes da compra, é importante ressaltar que as calopsitas, por serem aves de pequeno porte, são programadas pela evolução para ocultar sintomas de doenças, pois isso as tornaria presas mais fáceis a seus predadores, logo uma ave que possa aparentar estar bem de saúde pode muito bem conter uma série de doenças dentre as quais destacaremos algumas a seguir.

Isso posto, vamos observar o animal. Calopsitas, em regra, são aves criadas em confinamento, ou seja, elas passam boa parte do tempo em gaiolas, para não dizer o tempo todo. Logo, ela dificilmente ficará fisicamente cansada, o que nos leva a conclusão de que aves encorujadas durante o dia, sonolentas, com olhos fechados e penas arrepiadas, com asas caídas e indiferentes ao toque da mão de um desconhecido correm sério risco de estarem doentes. Esse é um aspecto de suma importância na compra da ave. Evite de todas as formas comprar uma ave nessas condições, pois a chance de você ter problemas com ela é muito grande.

Vou além, ao ponto de dizer que a grande maioria das doenças comuns em Calopsitas são altamente contagiosas entre elas e inclusive, algumas delas são zoonoses (transmissíveis a seres humanos em condições de imunodeficiência). Portanto, se existe alguma ave no viveiro aparentando maus sinais de saúde e as demais parecerem normais, é muito provável que essas normais já estejam contaminadas e ainda não manifestaram os sintomas pelas razões já expostas. Nesse caso, o ideal seria procurar outro estabelecimento comercial para efetuar a compra. Evidentemente que uma ave pode ficar sonolenta por estar ociosa, mas isso é incomum quando se trata de mais de uma ave em um viveiro.

Outros aspectos devem ser levados em conta, como os olhos. Eles devem ser brilhantes e cercados de penas. Aves sem penas ao redor dos olhos, e estes com sinais de irritação ou inchaço muito provavelmente estão doentes e devem ser evitadas. As penas também devem ter cores marcantes e vivas, não podendo ser opacas e desconstituídas. Verifique também a cloaca da ave (o orifício por onde elas defecam). As penas no entorno devem ser limpas, não deve haver restos secos de fezes pendurados ou manchas de corrimento. Ave magra demais também pode ser um indicativo de que as coisas não vão bem. Evite aves com o osso esterno muito saliente e aparente (osso frontal do peito da ave).

 

 

III- DA NEGOCIAÇÃO


Passada a fase de análise da ave e do local onde ela se encontra, passamos à fase que, em minha opinião, é a mais importante do processo. Muitos dos fatores abordados anteriormente podem ser superados, principalmente os que dizem respeito aos fatores legais do estabelecimento e seu acondicionamento das aves.
De modo geral, criadouros bem estabelecidos fazem controle de sanidade de suas matrizes (aves genitoras dos filhotes que geralmente são vendidos). Existem alguns, que já fazem tal controle nos próprios filhotes que estão à venda.

Esse controle é feito através de exames laboratoriais, através do envio de amostras de fezes para a verificação da presença de vários agentes que podem atacar a saúde do animal. Se o criadouro é zeloso com seu plantel, ele fará esse controle no mínimo anualmente, fazendo exames para a detecção das bactériaschlamydophila psittaci, mycoplasma spp. salmonella spp., fazendo também um exame parasitológico completo, para detectar, dentre outros parasitas, os coccídeos (Aqui no próprio fórum o Dr. Felipe Bath possui artigos descrevendo melhor esses agentes). Isso é o básico, porém existem outros agentes e exames que podem ser feitos, mas aí varia da opinião do veterinário responsável pelo atendimento ao plantel do criador, que é o responsável por solicitar tais exames periódicos.

Nesse ponto reside uma fundamental diferença entre comprar de um criadouro e uma loja de varejo. No criadouro, você pode pedir para que ele exiba o laudo do exame ou lhe forneça uma cópia do mesmo. Se as matrizes são saudáveis, muito provavelmente sua prole também é. Ainda assim, a mera exibição dos laudos não desobriga certos cuidados que serão expostos na sequência, que também são fundamentais. Já em lojas de varejo é muitíssimo improvável que o lojista disponha dessa documentação, bem como desse controle nas aves que estão à venda pelo simples motivo de que esses exames custarem ao todo, mais do que a própria ave, o que inviabiliza a venda lucrativa.

Entretanto, isso não impede do lojista oferecer garantia do que ele vende. O código de defesa do consumidor é claro nesse ponto. O artigo 4º, inciso II, alínea “d” estabelece que seja função do Estado agir no sentido de proteger o consumidor, sua dignidade, segurança, saúde e seus interesses econômicos através da garantia. Existe a garantia legal e a garantia contratual. A primeira decorre de imposição da Lei, ou seja, nada pode ser vendido no Brasil sem a garantia prevista no artigo 26 do Código de Defesa do Consumidor. No nosso caso, entendo que é de 90 dias o prazo de garantia, pois a ave pode, juridicamente falando, ser considerada um bem semovente durável. A segunda é contratual, ou seja, a garantia contratual pode ser estipulada entre as partes e ela entra em vigor a partir do término da primeira.

Aqui vai uma recomendação. Se você decidir por comprar uma ave em loja de varejo, tente negociar com o lojista um contrato de garantia da saúde da ave. Evidentemente que essa garantia não é absoluta e não pode abranger maus tratos ou insuficiência nutricional da ave nesse período. O que se deve lutar para conseguir é uma garantia de que a ave não possua tais doenças preexistentes.

Ainda assim, é importante ressaltar que o criadouro, ainda que não tenha um estabelecimento comercial, também deve garantir a saúde da ave nos mesmos termos de uma loja especializada. A diferença reside no fato de que geralmente os criadores são mais conscientes dessa obrigação e flexíveis nesse ponto.
Outro item que devemos destacar é a definição do sexo da ave. É muito frequente vermos pessoas pesquisando em fóruns e sites para tentar definir o sexo da ave recém-comprada. Nesse ponto, não há mágica. As calopsitas filhotes não possuem dimorfismo sexual, ou seja, é impossível diferenciar o sexo de maneira segura. Tudo que verem por aí é chute, dependendo da idade do animal.

Portanto, criadores realizam exames de DNA nos filhotes à venda para estabelecer o sexo.Especificamente no caso dos criadores, que conhecem o perfil genético de suas matrizes, existe uma pequena possibilidade de se identificar o sexo do animal através da plumagem, porém, vale destacar que isso se aplica em alguns casos bem específicos, daí a recomendação pelo exame de sexagem. Em loja de varejo é muito difícil encontrar aves “sexadas”, porém o exame é de baixo custo e fácil realização e pode (deve) ser feito pelo proprietário nesse caso, justamente para se definir o nome da ave e as futuras companhias que eventualmente elas possam ganhar.

Em que pese o fornecimento ou não dos exames pregressos, seja das matrizes ou da própria ave que se está comprando, nada impede e pelo contrário, recomendo fortemente que se faça por conta própria esses exames, colhendo as fezes após o período de adaptação da ave no novo lar. Geralmente esse período pode variar de 7 a 30 dias, dependendo do manuseio e da própria personalidade da ave.

É imprescindível que esse controle seja feito, ainda que na sua cidade não haja laboratório que realize os exames. Existem diversos laboratórios no mercado que atendem por correspondência, inclusive pagando a postagem da amostra. Basta localizar os laboratórios na internet e solicitar os devidos kits de coleta. Ainda que o valor dos exames seja alto, é possível pagar pelos exames com cartões de crédito, parcelando os valores.

Feitos os exames, teremos a tranquilidade e a segurança de que a ave goza de saúde suficiente para não ter uma morte súbita e traumática para toda a família, evitando a exposição de pessoas a doenças eventualmente contagiosas. Caso algum dos exames aponte algum resultado desfavorável, deve-se entrar em contato com o responsável pela venda para formalizar a reclamação e exercer uma das três opções autorizadas pelo Código de Defesa do Consumidor, sendo a devolução dos valores pagos, a troca da ave (o que eu não recomendo devido ao contágio) ou um abatimento no valor da ave, mas nesse caso, recomendo que se negocie o pagamento do tratamento ou que o responsável faça o tratamento adequado.

Cumpre ressaltar, por derradeiro, que em caso de compra de nova ave para adicionar ao convívio de outra que já esteja estabelecida, ainda que a compra seja feita do mesmo local, esse procedimento deve ser repetido, adicionando a separação das aves ao compra-la. Jamais se deve juntar de imediato as aves. Além do risco de eventuais brigas, se a ave nova estiver doente, vai contaminar a sadia e você terá de tratar as duas, o que além de ser trabalhoso e caro, pode facilmente resultar em óbito de uma ou mais aves. Mantenha as aves separadas durante o período de adaptação ao novo lar e realização dos devidos exames.

 

 

IV – RESUMO E CONCLUSÃO


Em apertada síntese, o processo se resume a: Verificação das condições do estabelecimento do qual se comprará a ave. Verificação da aparência de todas as aves que estão dispostas a venda. Verificação das condições de compra, definindo garantias e exibição de exames pregressos (clamídia, salmonela, mycoplasma e parasitológico completo, de preferência). Adaptação da ave ao novo ambiente e realização de novos exames (os mesmos já citados). QUARENTENA para novas aves.

Eu creio que dessa forma, além de evitarmos a propagação de doenças, evitamos lágrimas e discussões diante dessas situações extremas. Devido ao número cada vez maior de queixas de aves doentes, devemos tomar esses cuidados para comprarmos nossos calopsitas de modo seguro e justo, ainda que paguemos um preço mais elevado por conta disso.

Despeço-me dos amigos pedindo desculpas pela extensão do texto, mas creio que devido à importância nas nossas vidas e nas vidas das nossas calopsitas que o assunto tem, ela se faz justificada. Espero que com esse artigo, tenhamos eliminado a maior quantidade possível de dúvidas no momento da compra.


DCM BALTHAZAR

 

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