DCM Balthazar Postado 10 de Abril de 2015 Compartilhar Postado 10 de Abril de 2015 MEGABACTERIOSE EM AVES Paulo Reis de Carvalho Médico Veterinário, PqC da APTA Regional Centro Oeste/APTA p_reiscar@apta.sp.gov.br Thiago Silva de Queirós Estudante graduação Medicina Veterinária - Universidade Guarulhos Maria Carolina Gonçalves Pita Profa. Ornitopatologia Medicina Veterinária - Universidade Guarulhos caro.pita@ig.com.brA megabacteriose − Macrorhabdus ornithogaster também chamada “Síndrome LightGoing” é uma doença que afeta aves de muitas espécies, tendo sido associada a umacondição crônica sintomática ou assintomática.Segundo especialistas, esta afecção tem sido relatada em alguns países e em diversasespécies de aves tais como, periquito (Melopsittacus undulatus), canário (Serinus canarius),ema (Rhea americana), avestruz (Struthio camelus), mandarim (Taeniopygia guttata),tucano (família Ramphastidae), pomba (família Columbidae), codorna japonesa (Coturnixcoturnix japonica), galinha (Gallus gallus) e peru (Meleagris gallopavo).A megabactéria é uma estrutura bacilar, grande, Gram positiva, classificada como um fungo,sendo denominada Macrorhabdus ornithogaster a partir dos estudos de Tomaszewski et al.Agente etiológicoPesquisadores descreveram o microorganismo pela primeira vez como estruturassemelhantes a um fungo, em proventrículo de canários e periquitos. Posteriormente, novosestudos caracterizaram o agente como uma bactéria bacilar, Gram positivo, PAS (ÁcidoPeriódico de Schiff) positivo, de dimensões grandes, variando entre 1,5 para 3,0 µm delargura e 20 a 50 µm de comprimento.Também se sugeriu que o mesmo seria um componente normal da flora gastrointestinal deperiquitos, desde que os microorganismos foram também isolados de aves saudáveis.Tomaszewski et al. (2003) realizaram análise filogenética da megabactéria aviáriaclassificando-a como fungo ascomiceto anamórfico, denominando-o Macrorhabdusornithogaster. Ainda em outros estudos Scanlan et al. (1990) denotaram motilidade doagente, além da produção de gás em cultura e crescimento a 37º C sendo este maisexuberante em meio a 5% de CO2 (Martins et al., 2006).Existem referências de que o fungo pode ser encontrado nas fezes e no muco do istmoentre proventrículo e ventrículo, e não se sabe sobre a resistência do agente no ambiente(Tomaszewski et al., 2003; Hannafusa et al., 2007). Estudos têm observado que o M.ornithogaster é um microrganismo oportunista, promovendo maior mortalidade quandoassociado à desordem imunossupressora, possui resistência a muitos medicamentosterapêuticos e antifúngicos.A patogenia da doença não é bem conhecida. Sabe-se que a megabactéria coloniza asuperfície do ventrículo, mais especificamente a membrana coilina, penetrandoprofundamente nesta, o que afeta as glândulas secretoras de muco, promovendo atrofia ounecrose destas estruturas.EpidemiologiaA presença deste microorganismo tem sido observada em diversos estudos, no Brasil entre1994 e 1997 (Werther et al., 2000). Foi observado nestas pesquisas que 56% das avesnecropsiadas neste período no Hospital Veterinário da Universidade do Estado de SãoPaulo, eram positivas para megabactéria.Já em 2006, foi diagnosticado o fungo em várias espécies aviárias incluindo canário,galinha, pomba, tucano, peru e mandarim, tanto nas fezes como na mucosa doproventrículo. Neste mesmo artigo, ratos foram contaminados com o microorganismoisolado de galinha, promovendo mortalidade de 100% destes animais (Martins et al., 2006).No estudo de Segabinazi et al. (2004) encontrou-se Macrorhabdus ornithogaster emventrículo de filhotes de ema de uma criação comercial do Rio Grande do sul, as quaistinham histórico de normorexia, emagrecimento progressivo, fraqueza e diminuição doganho de peso seguida de morte do animal.Foi mencionado por Martins et al. (2006) a presença de megabacteriose em avestruzesimportados da Espanha em 2000, os quais vieram a óbito após hiporexia e emagrecimentoprogressivos. Na Austrália, Phalen et al. (2003) relataram a presença deste microorganismoem diversas espécies de aves incluindo periquitos. Por outro lado, observaram positividadeem galinhas, codornas japonesas, canários e periquitos, sendo que não encontrou omicroorganismo em papagaios necropsiados no mesmo experimento.TransmissãoA principal fonte de infecção do Macrorhabdus ornithogaster são as aves portadorasassintomáticas (Baker, 1997). Não há indicações científicas que demonstrem havertransmissão vertical da megabactéria, no entanto, a alimentação dos filhotes através daregurgitação bem como a contaminação oro-fecal são as formas mais comuns detransmissão do agente.Da mesma forma, o alojamento conjunto de espécies diferentes, unido de precáriabiossegurança aumentam as chances de transmissão do agente, fato este sustentado pelaocorrência de megabacteriose em canários e mandarins de um mesmo criatório, egalináceos e codornas japonesas alojadas em um mesmo galpão.Sinais e lesõesA megabacteriose é uma doença caracterizada por baixa mortalidade e alta morbidade,sendo encontrados sinais de acometimento gastrointestinal, tais como diarreia, vômito, fezescom sangue, associados ou não à progressiva perda de peso, caquexia, anorexia ounormorexia.Ainda há relatos de desuniformidade do lote, depressão, fraqueza, letargia, problemas deempenamento, aumento da conversão alimentar, além de dramática atrofia dos músculospeitorais, acúmulo de fezes ao redor da cloaca, palidez de mucosas, queda da produção deovos, baixo ganho de peso (Moore et al., 2001; Cubas et al, 2006). É caracterizada comouma doença de alta morbidade e mortalidade bastante variável podendo chegar em 100%do lote principalmente em animais jovens, em emas, tucanos, e em animaisimunossuprimidos.A associação da Macrorhabdus ornithogaster com outros agentes tais como os dacoccidiose em tucanos, do vírus de Marek em frangos, da candidíase em galinhas ecodornas japonesas e da tricomoníase em pombos piora tanto a morbidade quanto amortalidade do plantel, imprimindo um caráter oportunista ao fungo em questão.DiagnósticoO diagnóstico da infecção baseia-se em histórico, anamnese, sinais clínicos, microscopiadireta de impressão fresca da mucosa de ventrículo ou proventrículo, cultura de amostras demucosa ventricular e proventricular, histopatológico, necropsia e presença do agente nasfezes.A megabacteriose pode causar um aumento do pH do muco proventricular de 2,7 paravalores que podem variar de 7,0 a 7,3, por conseguinte, a medida de pH também podeajudar no diagnóstico, através de lavagem do proventrículo. Relatou-se que in vitro a culturadestes microorganismos é difícil, mas é possível, se utilizado o meio de cultura com o caldode Lactobacillus MRS numa câmara úmida.Ainda, pode-se considerar para diagnóstico, que o Macrorhabdus ornithogaster previamenteconhecido como Megabacterium, tem uma estrutura individualizada semelhante à Bacillus,gram-positivo, medindo de 1 a 5 µm em diâmetro por 20 a 90 µm em comprimentoSobre o metabolismo e crescimento, caracterizou-se o Macrorhabdus ornithogaster comosendo uma levedura ascomiceto encontrado somente no estomago de aves. A infecçãomuitas vezes pode ser benigna, entretanto, tem também sido associado a doenças emalgumas espécies de aves sob algumas circunstâncias específicas.TratamentoTem sido utilizado o procedimento adotado no tratamento de megabacteriose em periquitosaustralianos, o qual se baseou na administração de anfoterecina B (10 g/L) na água debeber e resultou em negatividade das aves após o tratamento. Da mesma forma, Antinoff(2004) demonstrou que o tratamento de canários com anfotericina B e cetoconazol diminuiua mortalidade do lote acometido e a anfoterecina B e antibióticos de largo espectro emperiquitos, promoveu um sucesso razoável, enquanto que animais não tratados evoluíraminvariavelmente para óbito.Por outro lado, também é conhecido que o tratamento deve ser realizado apenas emanimais que apresentarem sinais e que as drogas mais eficientes para megabacteriose sãoanfoterecina B, nistatina e cetaconazol. O autor ainda mencionou que uma opção detratamento é aumentar a acidez do estômago, administrando probióticos, tal como oLactobacilo spp. ou mesmo ácidos orgânicos, como vinagre de maçã.Lesões pós mortenAs alterações da mucosa do ventrículo são as lesões mais referenciadas. Relatos deliteratura confirmaram a presença de úlceras sobre a mucosa do ventrículo, hemorragias namucosa proventricular, próxima à transição para a moela, além de secreção leitosa namesma, o aumento e impactação de proventrículo foram notados em codornas (Martins etal., 2006).Estes mesmos autores referem hipertrofia e irregularidade das glândulas proventricularesem frangos. Por outro lado, referem presença de material mucoide proventricular em 100%dos casos de megabacteriose estudados, sendo que em 75% dos casos foi notado aumentoproventricular.Foi observado em filhotes de emas acometidos com megabacteriose palidez de mucosa orale da superfície externa do proventrículo e ventrículo, bem como conteúdo fibroso, alimentomal digerido e de coloração escura nos intestinos e moela. Outras lesões encontradas nasaves acometidas por Macrorhabdus ornitogaster, são exaustão da gordura corporal inclusivecoronariana e hemopericárdio e caquexia (Son et al., 2004).ConclusãoO conhecimento da epidemiologia, patogenia, espécies acometidas e eficiência detratamento de megabacteriose em aves é muito restrito e pouco estudado. Considera-se queeste fungo pode ser um agente oportunista, visto ser encontrado muitas vezes em animaissem sinais clínicos da doença.Desta forma, situações tais como muda, grande produção de ovos, alterações ambientais ede higiene, ou qualquer falha na criação que leve a estresse e imunossupressão podempropiciar a proliferação do agente e, portanto, ao aparecimento dos sinais e sintomas daenfermidade.ReferênciasANTINOFF, N. Diagnosis and treatment options for megabacteria (Macrorhabdus ornithogaster). Journal of Avian Medicine and Surgery, v.18, p. 189–195, 2004.BAKER, J.R. Megabacteria in diseased and healthy budgerigars. 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Phylogenetic analysis identifies the 'megabacterium' of birds as a novel anamorphic ascomycetous yeast, Macrorhabdus ornithogaster gen. nov., sp. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 53, p. 1201-1205, 2003.WERTHER, K.; SCHOCKEN-ITURRINO, R.P.; VERONA, C.E.S.; BARROS, L.S.S. Megabacteriosis occurrence in budgerigars, canaries and lovebirds in Ribeirão Preto region -São Paulo State - Brazil. Revista Brasileira de Ciência Avícola, Campinas, v. 2, n. 2, p. 183-187, 2000.www.aptaregional.sp.gov.br/artigosPesquisa & Tecnologia, vol. 8, n. 100, dezembro de 2011__________________________________________Nota: O presente artigo de revisão foi publicado integralmente na revista científica: PUBVET, Londrina, V. 5, N. 13, Ed. 160, Art. 1080, 2011 1 Link para compartilhar Compartilhe em outras redes Mais opções...
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