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Artigo: Megabacteriose em aves, Tudo o que você precisa saber sobre.


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MEGABACTERIOSE EM AVES

 

 

Paulo Reis de Carvalho

 

 

Médico Veterinário, PqC da APTA Regional Centro Oeste/APTA

 

 

p_reiscar@apta.sp.gov.br

 

 

Thiago Silva de Queirós

 

 

Estudante graduação Medicina Veterinária - Universidade Guarulhos

 

 

Maria Carolina Gonçalves Pita

 

 

Profa. Ornitopatologia Medicina Veterinária - Universidade Guarulhos

 

 

caro.pita@ig.com.br




A megabacteriose − Macrorhabdus ornithogaster  também chamada “Síndrome Light
Going” é uma doença que afeta aves de muitas espécies, tendo sido associada a uma
condição crônica sintomática ou assintomática.
Segundo especialistas, esta afecção tem sido relatada em alguns países e em diversas
espécies de aves tais como, periquito (Melopsittacus undulatus), canário (Serinus canarius),
ema (Rhea americana), avestruz (Struthio camelus), mandarim (Taeniopygia guttata),
tucano (família Ramphastidae), pomba (família Columbidae), codorna japonesa (Coturnix
coturnix japonica), galinha (Gallus gallus) e peru (Meleagris gallopavo).
A megabactéria é uma estrutura bacilar, grande, Gram positiva, classificada como um fungo,
sendo denominada Macrorhabdus ornithogaster a partir dos estudos de Tomaszewski et al.


Agente etiológico

Pesquisadores descreveram o microorganismo pela primeira vez como estruturas
semelhantes a um fungo, em proventrículo de canários e periquitos. Posteriormente, novos
estudos caracterizaram o agente como uma bactéria bacilar, Gram positivo, PAS (Ácido
Periódico de Schiff) positivo, de dimensões grandes, variando entre 1,5 para 3,0 µm de
largura e 20 a 50 µm de comprimento.
Também se sugeriu que o mesmo seria um componente normal da flora gastrointestinal de
periquitos, desde que os microorganismos foram também isolados de aves saudáveis.
Tomaszewski et al. (2003) realizaram análise filogenética da megabactéria aviária
classificando-a como fungo ascomiceto anamórfico, denominando-o Macrorhabdus
ornithogaster. Ainda em outros estudos Scanlan et al. (1990) denotaram motilidade do
agente, além da produção de gás em cultura e crescimento a 37º C sendo este mais
exuberante em meio a 5% de CO2 (Martins et al., 2006).
Existem referências de que o fungo pode ser encontrado nas fezes e no muco do istmo
entre proventrículo e ventrículo, e não se sabe sobre a resistência do agente no ambiente
(Tomaszewski et al., 2003; Hannafusa et al., 2007). Estudos têm observado que o M.
ornithogaster é um microrganismo oportunista, promovendo maior mortalidade quando
associado à desordem imunossupressora, possui resistência a muitos medicamentos
terapêuticos e antifúngicos.
A patogenia da doença não é bem conhecida. Sabe-se que a megabactéria coloniza a
superfície do ventrículo, mais especificamente a membrana coilina, penetrando
profundamente nesta, o que afeta as glândulas secretoras de muco, promovendo atrofia ou
necrose destas estruturas.


Epidemiologia

A presença deste microorganismo tem sido observada em diversos estudos, no Brasil entre
1994 e 1997 (Werther et al., 2000). Foi observado nestas pesquisas que 56% das aves
necropsiadas neste período no Hospital Veterinário da Universidade do Estado de São
Paulo, eram positivas para megabactéria.
Já em 2006, foi diagnosticado o fungo em várias espécies aviárias incluindo canário,
galinha, pomba, tucano, peru e mandarim, tanto nas fezes como na mucosa do
proventrículo. Neste mesmo artigo, ratos foram contaminados com o microorganismo
isolado de galinha, promovendo mortalidade de 100% destes animais (Martins et al., 2006).
No estudo de Segabinazi et al. (2004) encontrou-se Macrorhabdus ornithogaster em
ventrículo de filhotes de ema de uma criação comercial do Rio Grande do sul, as quais
tinham histórico de normorexia, emagrecimento progressivo, fraqueza e diminuição do
ganho de peso seguida de morte do animal.
Foi mencionado por Martins et al. (2006) a presença de megabacteriose em avestruzes
importados da Espanha em 2000, os quais vieram a óbito após hiporexia e emagrecimento
progressivos. Na Austrália, Phalen et al. (2003) relataram a presença deste microorganismo
em diversas espécies de aves incluindo periquitos. Por outro lado, observaram positividade
em galinhas, codornas japonesas, canários e periquitos, sendo que não encontrou o
microorganismo em papagaios necropsiados no mesmo experimento.
Transmissão
A principal fonte de infecção do Macrorhabdus ornithogaster são as aves portadoras
assintomáticas (Baker, 1997). Não há indicações científicas que demonstrem haver
transmissão vertical da megabactéria, no entanto, a alimentação dos filhotes através da
regurgitação bem como a contaminação oro-fecal são as formas mais comuns de
transmissão do agente.
Da mesma forma, o alojamento conjunto de espécies diferentes, unido de precária
biossegurança aumentam as chances de transmissão do agente, fato este sustentado pela
ocorrência de megabacteriose em canários e mandarins de um mesmo criatório, e
galináceos e codornas japonesas alojadas em um mesmo galpão.


Sinais e lesões

A megabacteriose é uma doença caracterizada por baixa mortalidade e alta morbidade,
sendo encontrados sinais de acometimento gastrointestinal, tais como diarreia, vômito, fezes
com sangue, associados ou não à progressiva perda de peso, caquexia, anorexia ou
normorexia.
Ainda há relatos de desuniformidade do lote, depressão, fraqueza, letargia, problemas de
empenamento, aumento da conversão alimentar, além de dramática atrofia dos músculos
peitorais, acúmulo de fezes ao redor da cloaca, palidez de mucosas, queda da produção de
ovos, baixo ganho de peso (Moore et al., 2001; Cubas et al, 2006). É caracterizada como
uma doença de alta morbidade e mortalidade bastante variável podendo chegar em 100%
do lote principalmente em animais jovens, em emas, tucanos, e em animais
imunossuprimidos.
A associação da Macrorhabdus ornithogaster com outros agentes tais como os da
coccidiose em tucanos, do vírus de Marek em frangos, da candidíase em galinhas e
codornas japonesas e da tricomoníase em pombos piora tanto a morbidade quanto a
mortalidade do plantel, imprimindo um caráter oportunista ao fungo em questão.
Diagnóstico
O diagnóstico da infecção baseia-se em histórico, anamnese, sinais clínicos, microscopia
direta de impressão fresca da mucosa de ventrículo ou proventrículo, cultura de amostras de
mucosa ventricular e proventricular, histopatológico, necropsia e presença do agente nas
fezes.
A megabacteriose pode causar um aumento do pH do muco proventricular de 2,7 para
valores que podem variar de 7,0 a 7,3, por conseguinte, a medida de pH também pode
ajudar no diagnóstico, através de lavagem do proventrículo. Relatou-se que in vitro a cultura
destes microorganismos é difícil, mas é possível, se utilizado o meio de cultura com o caldo
de Lactobacillus MRS numa câmara úmida.
Ainda, pode-se considerar para diagnóstico, que o Macrorhabdus ornithogaster previamente
conhecido como Megabacterium, tem uma estrutura individualizada semelhante à Bacillus,
gram-positivo, medindo de 1 a 5 µm em diâmetro por 20 a 90 µm em comprimento
Sobre o metabolismo e crescimento, caracterizou-se o Macrorhabdus ornithogaster como
sendo uma levedura ascomiceto encontrado somente no estomago de aves. A infecção
muitas vezes pode ser benigna, entretanto, tem também sido associado a doenças em
algumas espécies de aves sob algumas circunstâncias específicas.
Tratamento
Tem sido utilizado o procedimento adotado no tratamento de megabacteriose em periquitos
australianos, o qual se baseou na administração de anfoterecina B (10 g/L) na água de
beber e resultou em negatividade das aves após o tratamento. Da mesma forma, Antinoff
(2004) demonstrou que o tratamento de canários com anfotericina B e cetoconazol diminuiu
a mortalidade do lote acometido e a anfoterecina B e antibióticos de largo espectro em
periquitos, promoveu um sucesso razoável, enquanto que animais não tratados evoluíram
invariavelmente para óbito.
Por outro lado, também é conhecido que o tratamento deve ser realizado apenas em
animais que apresentarem sinais e que as drogas mais eficientes para megabacteriose são
anfoterecina B, nistatina e cetaconazol. O autor ainda mencionou que uma opção de
tratamento é aumentar a acidez do estômago, administrando probióticos, tal como o
Lactobacilo spp. ou mesmo ácidos orgânicos, como vinagre de maçã.

Lesões pós morten

As alterações da mucosa do ventrículo são as lesões mais referenciadas. Relatos de
literatura confirmaram a presença de úlceras sobre a mucosa do ventrículo, hemorragias na
mucosa proventricular, próxima à transição para a moela, além de secreção leitosa na
mesma, o aumento e impactação de proventrículo foram notados em codornas (Martins et
al., 2006).
Estes mesmos autores referem hipertrofia e irregularidade das glândulas proventriculares
em frangos. Por outro lado, referem presença de material mucoide proventricular em 100%
dos casos de megabacteriose estudados, sendo que em 75% dos casos foi notado aumento
proventricular.
Foi observado em filhotes de emas acometidos com megabacteriose palidez de mucosa oral
e da superfície externa do proventrículo e ventrículo, bem como conteúdo fibroso, alimento
mal digerido e de coloração escura nos intestinos e moela. Outras lesões encontradas nas
aves acometidas por Macrorhabdus ornitogaster, são exaustão da gordura corporal inclusive
coronariana e hemopericárdio e caquexia (Son et al., 2004).
Conclusão
O conhecimento da epidemiologia, patogenia, espécies acometidas e eficiência de
tratamento de megabacteriose em aves é muito restrito e pouco estudado. Considera-se que
este fungo pode ser um agente oportunista, visto ser encontrado muitas vezes em animais
sem sinais clínicos da doença.
Desta forma, situações tais como muda, grande produção de ovos, alterações ambientais e
de higiene, ou qualquer falha na criação que leve a estresse e imunossupressão podem
propiciar a proliferação do agente e, portanto, ao aparecimento dos sinais e sintomas da
enfermidade.




Referências
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ornithogaster). Journal of Avian Medicine and Surgery, v.18, p. 189–195, 2004.
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p.627, 1997.
CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; DIAS, R.C. Tratado de Animais Selvagens – Medicina 
Veterinária, São Paulo: Roca, 2006.
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Brasil. Ciência Rural, v.34, n.3, p.959-960, 2004.
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Phylogenetic analysis identifies the 'megabacterium' of birds as a novel anamorphic 
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Megabacteriosis occurrence in budgerigars, canaries and lovebirds in Ribeirão Preto region -
São Paulo State - Brazil. Revista Brasileira de Ciência Avícola, Campinas, v. 2, n. 2, p. 183-
187, 2000.www.aptaregional.sp.gov.br/artigos
Pesquisa & Tecnologia, vol. 8, n. 100, dezembro de 2011
__________________________________________
Nota: O presente artigo de revisão foi publicado integralmente na revista científica: 
PUBVET, Londrina, V. 5, N. 13, Ed. 160, Art. 1080, 2011

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