Sandra Gomes Postado 9 de Setembro de 2017 Compartilhar Postado 9 de Setembro de 2017 Bruno Sotero do Nascimento bruno.sot@hotmail.com Um dos problemas que mais me procuram pedindo ajuda desde que comecei a prestar consultoria na criação e no comportamento de calopsitas é quanto ao temido pânico noturno, que por vezes causa grandes prejuízos materiais, financeiros e psicológicos ao dono, além de é claro, o alto nível de stress e possíveis ferimentos que venham a acometer as aves nessas situações. O pânico noturno nada mais é do que a ave se assustar com algum som, movimento ou odor durante a noite. Este susto desencadeia uma agitação na ave, que busca espantar a “ameaça” batendo as asas desesperadamente (dificilmente gritam nessa situação para não chamarem ainda mais a atenção do “predador”). Por estar em um ambiente fechado (normalmente uma gaiola) esta agitação muitas vezes gera ferimentos, quebra de penas e abandono de ninho. Bem, isso a maioria das pessoas já sabe, mas porque este pânico acontece e como controlar? É muito importante entendermos como funciona a mente das aves para entendermos o porque deste pânico generalizado e como evitá-lo. Uma coisa que um proprietário de calopsitas nesta situação sempre pode notar é que o pânico noturno é uma espécie de efeito dominó na criação, ou seja, se uma ave entra no pânico, normalmente todas as outras entram junto, mesmo que não estejam vendo o que a primeira a se assustar viu. Isso se deve ao fato de as aves serem animais que vivem em bando e por viverem em bando cada uma funciona como vigia do grupo. Se uma vigia informa que viu algo o bando todo segue essa informação, independente de terem confirmado a presença deste algo ou não. Este instinto é muito importante na natureza, uma vez que centenas de olhos enxergam mais do que apenas um par, e as chances de um predador lograr êxito ao se camuflar de tantos olhos reduz drasticamente. Como bando é muito grande, todos seguem imediatamente o alerta que a ave mais próxima dá, seguindo-se assim o tal efeito dominó. Pois bem, entendido isso vamos para a explicação de porque as aves têm esse pânico noturno. Muitas pessoas têm uma visão errada do pânico noturno associando-o única e exclusivamente à noite, mas este pânico pode acontecer à luz do dia sem problema algum pois a situação de pânico não é gerada pelo fato de estar escuro, mas sim pelo fato de algo assustar a ave. Sendo assim um gato próximo à gaiola ao meio dia com sol à pino pode gerar um pânico na gaiola igual ou até pior do que os pânicos que as aves têm durante à noite. Logo é muito importante para o dono entender que o problema não está na noite, mas sim no que está gerando susto nas aves. Na natureza as aves dificilmente sofrem com PN, mesmo com o movimento das folhas das árvores, do som de predadores, trovões e etc. então porque na gaiola, um local tão mais seguro, num quarto escuro e sem barulho, elas ainda assim entram naquele desespero todo? Primeiramente temos que entender que as aves NÃO NASCERAM PARA VIVEREM EM GAIOLAS e que a gaiola nem sempre é o local que a ave considera como sendo o mais seguro. O fato de não nascerem para viverem em gaiolas não é uma crítica neste contexto, mas sim uma informação que as pessoas devem ter em mente para entender como condicionar a ave a viver em tal ambiente. Mesmo que sua ave tenha nascido em cativeiro e esteja acostumada a viver em gaiola, quando condicionamos seu habitat única e exclusivamente a esse ambiente estamos privando a ave do poder de escolha. Na natureza ela dormiria onde se sentisse mais confortável e qualquer coisa que a traumatizasse naquele local seria o suficiente para ela mudar de “abrigo” e procurar um local onde se sentisse mais segura. Muitos criadores não pensam nisso e acabam fazendo da gaiola um local onde a ave se sente insegura e têm grandes prejuízos por isso. Esta insegurança pode ser gerada por vários fatores e vou citar aqui alguns exemplos: você tem uma ave que fica numa gaiola e um belo dia você deixa essa gaiola cair com a ave dentro, ou algum animal se aproximar da gaiola e assustar a ave ou alguma criança bater nas grades da gaiola, ou alguém ficar irritando a ave forçando uma aproximação indesejada enquanto a ave está ali dentro. Todas essas situações geram na cabeça da ave o seguinte “pensamento”: “Opa, aqui é um lugar perigoso, tenho que ficar atenta porque não posso confiar que estou segura dentro desta gaiola”. Aí, o dono, que não deu muita importância para esses detalhes cobre a gaiola com um pano durante a noite e a coloca em um local alto e escuro para que a ave não se assuste. Tudo lindo né? Só que não! Eis que uma brisa leve balança o pano 2cm e pronto, inicia-se o auê naquela gaiola. E porque esse auê se iniciou? Porque a ave não se sentia confiante dentro daquela gaiola e por isso não relaxava, mantinha-se sempre em estado de alerta e qualquer mínimo movimento fez com que ela ativasse o seu modo “alerta máximo” e entrasse em pânico. Temos que lembrar que as aves nunca estão dormindo 100% se não estiverem totalmente confiantes do local onde estão. As aves possuem a capacidade de “dormirem” com apenas metade do cérebro em estado de dormência enquanto a outra metade se mantém atenta. Isso acontece quando você nota as aves dormindo com um olho aberto e outro fechado. Ela está dormindo mas não completamente. E estes 50% que permanecem acordados, ao notarem qualquer coisa que assuste a ave, podem desencadear o pânico. Esta situação de pânico é mais comum à noite (e por isso do nome pânico noturno) porque neste momento a ave está enxergando menos devido à escuridão e seus sentidos estão mais sensíveis devido ao silêncio da noite. É difícil entender isso sem uma analogia, então vou levantar aqui uma hipótese para que o leitor entenda melhor. Durante o dia ouvimos vários barulhos que nem escutamos. Como assim? O tempo todo você ouve barulhos de pássaros, carros, pessoas falando, televisores, eletrodomésticos, cães latindo, e vários outros sons ao mesmo tempo. O som está ali, você está ouvindo mas não escutando porque seu cérebro não está prestando atenção nele. Nós selecionamos o que queremos escutar de todos aqueles sons que estão entrando no nosso canal auditivo para darmos atenção somente ao que importa. Daí chega a noite e com ela vem o silêncio. Nessa situação qualquer mínimo barulho como um grilo fazendo um “cricri” baixinho na casa do vizinho já se torna perceptível pois você tem menos sons entrando e seu cérebro pára de se preocupar em filtrar os mais úteis. Em uma situação onde você se sente seguro com o que está acontecendo você não dá atenção a mínimos detalhes, já em situações novas ou temerosas seus sentidos são utilizados ao máximo, vide por exemplo o ato de dirigir. Se você está acostumado e se sente seguro no volante, o ato de ver outros carros ou pessoas passando próximas ao seu veículo se torna normal e até imperceptível. Já se você tem algum trauma, acabou de sofrer um acidente a poucos dias ou tirou carteira recentemente, cada detalhe faz adiferença e você não consegue nem conversar com o carona de tão atento que fica na direção. Tudo isso acontece com as aves. Durante a noite ela fica mais atenta e com menos sons e imagens para “camuflar” qualquer barulho ou movimento que a assuste. Ao escutar qualquer mínimo som ou ver uma sobra ou vulto se mexendo, caso não se sinta segura e confiante de que naquele local nada de mal pode lhe acontecer, ela pode se assustar e iniciar o pânico. Nossa Bruno! Muito bacana, mas então como faço para evitar o pânico noturno? Ao contrário do que muita gente pensa, cobrir a gaiola não é o que vai fazer sua ave deixar de ter crises de pânico, muito pelo contrário. Um vento balançando o pano pode desencadear a crise de forma muito mais intensa além de a ave, em meio à sua bateção de asas, poder agarrar a unha no pano e ficar pendurada aumentando ainda mais o stress e o trauma psicológico da ave. O primeiro passo para quem tem esse problema é tornar a gaiola um local onde a ave se sinta 100% segura. Ao se sentir segura, como eu já disse no exemplo, a ave passa a não entrar em alerta tão facilmente e por estar confiante ela consegue abrir mão de descansar apenas 50% do cérebro para dormir completamente durante a noite. Eu já disse em um vídeo sobre amansamento que a ave só abre mão de seus sensores de proteção (o qual o principal é a visão) se ela se sentir 100% segura. Logo ela só vai descansar e relaxar 100% (na verdade o mais próximo disso pois ela nunca está totalmente inativa) se ela sentir que nada pode ameaçá-la. Ouso dizer que 95% dos casos de pânico noturno estão relacionados a traumas ambientais, ou seja, aves que não se sentem seguras na gaiola ou cômodo onde dormem e por isso desencadeiam todo este processo que já expliquei. A regra mais básica de quem tem uma calopsita é: NUNCA TORNE A GAIOLA UM AMBIENTE TRAUMÁTICO. As pessoas devem entender que a gaiola é da ave e não do dono. Se optamos por termos aves e criá-las em cativeiro devemos ter em mente de que o habitat dela deve ser o mais seguro possível pois estamos privando-a da opção de escolha de onde viver. Se você é uma pessoa que ama demais sua ave e vez ou outra confunde razão com emoção, você deve estar pensando: “Ah, se a ave escolhendo é melhor, então vou deixar ela dormir solta no meu quarto!”. NÃO coleguinha, esse não é o caminho. As aves precisam de um porto seguro e de um local onde você vá colocá-la e saber onde ela está. Deixar ela solta na casa durante a noite vai gerar vários outros problemas muito piores que o pânico noturno como por exemplo você levantar da cama e não notar que ela está dentro do seu tênis ou embaixo do seu pé e acabar esmagando o pobre animal. Se sua ave tem pânico noturno constantemente a solução é: • reorganizar a gaiola (caso não dê para trocá-la) para que a ave se sinta em um novo ambiente; • não deixar em hipótese alguma a gaiola cair ou animais ficarem tentando predar a ave enquanto ela está presa para que a gaiola não se torne um local traumático; • deixar a gaiola sempre em locais altos onde seja mais difícil de qualquer animal ou pessoa assustar a ave • se sua ave for mansa e viver solta, solte-a se possível diariamente e em horários pré determinados deixando sempre, nesses momentos, a gaiola no chão para que a ave possa entrar e sair durante o passeio; • quando for soltar a ave NÃO TIRE-A DA GAIOLA COM A MÃO. Deixe que a ave saia sozinha quando se sentir segura; • não permita que cães e gatos se aproximem da gaiola das aves; • prenda os panos que utilizar para cobrir a gaiola com pregadores para evitar que fiquem balançando com o vento Vale ressaltar que mesmo seguindo todos os procedimentos aqui descritos pode sim acontecer de uma vez ou outra (mas muito raramente) as aves venham a ter algum ataque de pânico noturno, mas essas crises são raras e passam rápido pois acontecem quando algo de mais assustador acaba despertando as aves. Espero ter ajudado. 5 Link para compartilhar Compartilhe em outras redes Mais opções...
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